Nesta 5ª edição, a Mostra IFÉ propõe um convite para que o público se relacione com obras que encaram o passado como presença viva e como prenúncio de futuro, como linguagem que se reinventa a cada gesto e como fundamento para o que ainda está por vir. As obras reunidas nesta edição não apenas evocam ancestralidades, elas as reinventam, projetando caminhos corajosos e originais a partir da escuta de memórias, de espiritualidades e de temáticas urgentes que tentam ser silenciadas, mas que nunca serão apagadas.

Concebemos quatro programas para apresentarmos um cinema que emerge da luta, da busca, das ausências e da reverência. No programa A falta que nos une e nos move a filmar, cineastas partem da dor da falta para reelaborar laços familiares e afetivos a partir da ausência. No programa No íntimo da busca: voltar ao centro de si, as obras se debruçam a partir das fendas abertas pela travessia colonial, evocando espiritualidades e afetos como forças de reconstrução e reencontro com o próprio ser.

No programa Lembrar é cuidar de quem nos cuida, somos convocados a honrar as mulheres e homens que pavimentaram caminhos e se tornaram encantados, presenças que seguem vivas em nós, orientando nossa contínua travessia no aqui e agora. Por fim, no programa Ser inteiro na luta e que ela não nos roube de nós, a resistência é afirmada sem ceder ao embrutecimento. Há luta por existência digna, mas também por amar, criar e permanecer com inteireza.

Conceber o futuro a partir do passado, de quem fomos, do que nos foi negado e de tudo aquilo que ainda podemos ser, é também um gesto de retomada. Trazer à luz o que foi empurrado ao esquecimento ou distorcido pela história é parte do trabalho necessário de reconhecer nossas potências enquanto sujeitos que constroem o tempo. Que os que ainda virão não caminhem mais sob a lógica do medo, da inferiorização ou da dúvida, mas com a certeza de que a pretitude é força originária, corpo e mente fundadoras de mundos. Olhar para a tela de cinema, neste contexto, é reencontro e afirmação: conhecer quem veio antes, compreender quem se é agora e imaginar quem ainda podemos ser.

Fazemos um chamamento a todas as pessoas interessadas ou de alguma forma instigadas pelas obras aqui reunidas a percorrer conosco esta travessia em curso, que pulsa em cada filme e no que neles há contido: força, presença e ancestralidade. Essa é a mola propulsora que nos conduz à reinvenção e a novos futuros.

Curadoria: Milena Manfredini e Danny Barbosa